segunda-feira, 18 de junho de 2012

Orientações da Igreja aos casais de segunda união

Do blog.cancaonova.com

Por Prof.Felipe Aquino


O que a Igreja diz aos casais que vivem nesta situação?
No Encontro Mundial das Famílias,  em Milão,  em 2 junho de 2012, foi feita uma pergunta ao Papa, na “Festa dos Testemunhos”, no Parque Bresso de Milão, Itália.  Manoel Angelo, um brasileiro lhe perguntou o seguinte: “Alguns desses casais que se casam novamente gostariam de se reaproximar da Igreja, mas veem negados os Sacramentos a eles e a desilusão é grande. Se sentem excluídos, marcados por uma sentença definitiva (…).   Sabemos que estas situações e que estas pessoas estão muito no coração da Igreja: quais palavras e quais sinais de esperança podemos dar a eles?”
O Papa respondeu o seguinte: “Na realidade, este problema dos casais em segunda união é um dos grandes sofrimentos da Igreja hoje. E não temos receitas simples. O sofrimento é grande e podem somente ajudar as paróquias, os indivíduos, ajudando estas pessoas a suportar o sofrimento deste divórcio. Eu diria que é muito importante saber, naturalmente, a prevenção, isto é, aprofundar desde o início, no namoro, numa decisão profunda, madura. Além disso, o acompanhamento durante o matrimônio, afim que as famílias não estejam nunca sozinhas, mas realmente acompanhadas em seu caminho.
E depois, quanto a essas pessoas, devemos dizer (…) que a Igreja as ama, mas eles devem ver e sentir este amor. Parece-me um grande desafio para uma paróquia, uma comunidade católica, fazer realmente o possível para que eles se sintam amados, aceitos, que não se sintam “fora”, mesmo que não possam receber a absolvição e a Eucaristia. Eles devem ver que mesmo assim vivem plenamente na Igreja. Talvez, se não é possível a absolvição na Confissão, todavia, um contato permanente com um sacerdote, com um guia espiritual, é muito importante para que possam ver que estão sendo acompanhados, guiados.
Depois, é também muito importante que sintam que a Eucaristia é verdadeira e participada se realmente entram em comunhão com o Corpo de Cristo. Mesmo sem o recebimento “corporal” do Sacramento, podemos estar espiritualmente unidos a Cristo no Seu Corpo. E fazer entender isso é importante, que realmente encontrem a possibilidade de viver uma vida de fé, com a Palavra de Deus, com a comunhão da Igreja e podem ver que o sofrimento deles é um dom para a Igreja, porque serve, assim, para defender também a estabilidade do amor, do Matrimônio; e que este sofrimento não é somente um tormento físico e psíquico, mas é também um sofrimento na comunidade da Igreja, para os grandes valores da nossa fé. Penso que o sofrimento deles, se realmente interiormente aceito, pode ser um dom para a Igreja. Devem sabê-lo, que justamente assim servem a Igreja, estão no coração da Igreja. Obrigado pelo vosso empenho”.
http://ocatequista.com.br/?p=5893
Na Exortação Apostólica pos-sinodal “Sacramentum Caritatis” (n.29), de 22/2/2007, o Papa Bento disse: “Nos casos em que surjam legitimamente dúvidas sobre a validade do Matrimônio sacramental contraído, deve fazer-se tudo o que for necessário para verificar o fundamento das mesmas. Há que assegurar, pois, no pleno respeito do direito canônico, a presença no território dos tribunais eclesiásticos, o seu caráter pastoral, a sua atividade correta e pressurosa; é necessário haver, em cada diocese, um número suficiente de pessoas preparadas para o solícito funcionamento dos tribunais eclesiásticos. (…) Enfim, caso não seja reconhecida a nulidade do vínculo matrimonial e se verifiquem condições objetivas que tornam realmente irreversível a convivência, a Igreja encoraja estes fiéis a esforçarem-se por viver a sua relação segundo as exigências da lei de Deus, como amigos, como irmão e irmã; deste modo poderão novamente abeirar-se da mesa eucarística, com os cuidados previstos por uma comprovada prática eclesial.” (SC, 29)
O Papa Beato João Paulo II já tinha falado do mesmo assunto em sua Exortação Apostólica pós sinodal sobre a família (Familiaris Consórtio, 1981): “Os Padres Sinodais estudaram-no expressamente (…) Juntamente com o Sínodo exorto vivamente os pastores e a inteira comunidade dos fiéis a ajudar os divorciados, promovendo com caridade solícita que eles não se considerem separados da Igreja, podendo, e melhor devendo, enquanto batizados, participar na sua vida. Sejam exortados a ouvir a Palavra de Deus, a frequentar o Sacrifício da Missa, a perseverar na oração, a incrementar as obras de caridade e as iniciativas da comunidade em favor da justiça, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as obras de penitência para assim implorarem, dia a dia, a graça de Deus. Reze por eles a Igreja, encoraje-os, mostre-se mãe misericordiosa e sustente-os na fé e na esperança.
A Igreja, contudo, reafirma a sua práxis, fundada na Sagrada Escritura, de não admitir à comunhão eucarística os divorciados que contraíram nova união. Não podem ser admitidos, do momento em que o seu estado e condições de vida contradizem objetivamente aquela união de amor entre Cristo e a Igreja, significada e atuada na Eucaristia. Há, além disso, um outro peculiar motivo pastoral: se se admitissem estas pessoas à Eucaristia, os fiéis seriam induzidos em erro e confusão acerca da doutrina da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimônio.
A reconciliação pelo sacramento da penitência – que abriria o caminho ao sacramento eucarístico – pode ser concedida só àqueles que, arrependidos de ter violado o sinal da Aliança e da fidelidade a Cristo, estão sinceramente dispostos a uma forma de vida não mais em contradição com a indissolubilidade do matrimonio. Isto tem como consequência, concretamente, que quando o homem e a mulher, por motivos sérios – quais, por exemplo, a educação dos filhos – não se podem separar, «assumem a obrigação de viver em plena continência, isto é, de abster-se dos actos próprios dos cônjuges».
Igualmente o respeito devido quer ao sacramento do matrimônio quer aos próprios cônjuges e aos seus familiares, quer ainda à comunidade dos fiéis proíbe os pastores, por qualquer motivo ou pretexto mesmo pastoral, de fazer em favor dos divorciados que contraem uma nova união, cerimônias de qualquer gênero. Estas dariam a impressão de celebração de novas núpcias sacramentais válidas, e consequentemente induziriam em erro sobre a indissolubilidade do matrimonio contraído validamente.
Agindo de tal maneira, a Igreja professa a própria fidelidade a Cristo e à sua verdade; ao mesmo tempo comporta-se com espírito materno para com estes seus filhos, especialmente para com aqueles que sem culpa, foram abandonados pelo legítimo cônjuge.
Com firme confiança ela vê que, mesmo aqueles que se afastaram do mandamento do Senhor e vivem agora nesse estado, poderão obter de Deus a graça da conversão e da salvação, se perseverarem na oração, na penitência e na caridade” (FC, 84).
O Catecismo da Igreja diz o seguinte: “São  numerosos hoje, em muitos países, os católicos que recorrem ao divórcio segundo as leis civis e que contraem civicamente uma nova união. A Igreja, por fidelidade à palavra de Jesus Cristo (“Todo aquele que repudiar sua mulher e desposar outra comete adultério contra a primeira; e se essa repudiar seu marido e desposar outro comete adultério”: Mc 10,11-12), afirma que não pode reconhecer como válida uma nova união, se o primeiro casamento foi válido. Se os divorciados tornam a casar-se no civil, ficam numa situação que contraria objetivamente a lei de Deus. Portanto, não podem ter acesso à comunhão eucarística enquanto perdurar esta situação. Pela mesma razão não podem exercer certas responsabilidades eclesiais. A reconciliação pelo sacramento da Penitência só pode ser concedida aos que se mostram arrependidos por haver violado o sinal da aliança e da fidelidade a Cristo e se comprometem a viver numa continência completa. (§1651)
“A respeito dos cristãos que vivem nesta situação e geralmente conservam a fé e desejam educar cristãmente seus filhos, os sacerdotes e toda a comunidade devem dar prova de uma solicitude atenta, a fim de não se considerarem separados da Igreja, pois, como batizados, podem e devem participar da vida da Igreja:
Sejam exortados a ouvir a Palavra de Deus, a frequentar o sacrifício da missa, a perseverar na oração, a dar sua contribuição às obras de caridade e às iniciativas da comunidade em favor da justiça, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as obras de penitência para assim implorar, dia a dia, a graça de Deus. (§1652)

quarta-feira, 13 de junho de 2012

A história de Santo Antônio


De ofmsantoantonio.org


Por Frei Marconi Lins de Araújo, ofm


A vida de Santo Antônio continua chamando a atenção de muita gente por esse mundo a fora. Como nós sabemos, Santo Antônio nasceu numa família rica e importante de Portugal. Mas logo cedo quis viver o despojamento da vida de Jesus Cristo junto à comunidade do mosteiro da Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho. E quando seus parentes quiseram favorecer uma vida mais fácil dentro do mosteiro de São Vicente de Foras, periferia de Lisboa, mudou-se para o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, fugindo assim das facilidades que queriam para ele.
Mais tarde, querendo viver uma vida ainda mais radical, passou a seguir o caminho da pobreza evangélica, na imitação de Cristo, do jeito do Pobre de Assis, São Francisco. Antônio nasceu para servir! E fez-se servidor da Palavra de Deus que anunciou não só com sua voz, mas, sobretudo, com seu exemplo.
Vamos conhecer um pouco da vida deste grande santo franciscano para aprender dele e com ele seguir Jesus Cristo vivendo o mandamento do amor!

"Nasceu rico, fez-se pobre"

O tema faz-nos lembrar a afirmação de São Paulo que diz: “Jesus, embora fosse rico, se tornou pobre por causa de vocês, para com sua pobreza enriquecer vocês” (2Cor 8,9). E Santo Antônio, conforme nos conta a história, também nasceu de família rica. Seu pai Martinho de Bulhões, era cavaleiro do Rei Afonso II de Portugal, e sua mãe, Maria Teresa Taveira, aparentada com Failo I, o quarto rei das Astúrias. Seu avô, o conde Godofredo de Bulhões foi o comandante da primeira cruzada, “guerra santa” dos cristãos contra os maometanos que dominavam a Palestina, terra onde nasceu Jesus. Também tinha um tio chamado Fernando de Bulhões que era cônego e diretor de uma escola onde estudavam os filhos dos ricos, dos políticos e nobres. Nosso santo nasceu em Lisboa no dia 15 de agosto de 1195. Recebeu na pia batismal, na catedral de Lisboa, o nome de Fernando, que significa “ousado campeão da paz”. A casa onde nasceu Santo Antônio fica ao oeste da Sé de Lisboa, muito perto do portal principal. Certamente tinha outros irmãos. Entretanto somente temos conhecimento seguro de uma irmã, chamada Maria e que morreu em 1235 no mosteiro de São Miguel em Lisboa como cônega. Ela ainda vivia quando seu irmão, Santo Antônio, foi canonizado em 30 de maio de 1232.
Logo cedo, Santo Antônio foi para a escola onde seu tio era o diretor. Por ser filho do governador, vivia no luxo e na regalia, tinha tudo para buscar a vida e o ideal dos ricos de seu tempo. Mas quando Deus escolhe e chama alguém, não se pode fugir de seu caminho, e Santo Antônio fugiu foi da riqueza, da politicagem, da mentira e bajulação e buscou a felicidade bem longe de tudo isso. Certo dia, já rapazinho, assim desabafou:
“Ó mundo! Como você é um peso para mim!
O seu poder é nada!
Você não passa de uma varinha fraca.
As suas riquezas são como uma baforada de fumaça, e os seus prazeres como uma pedra traiçoeira, na qual a coragem de um homem de bem se afunda”.

“Acolheu com alegria a sabedoria da Palavra de Deus”

Em Lisboa, o rei de Portugal Dom Afonso I mandou construir um mosteiro e deu o nome de São Vicente de Fora. Queria que aquele lugar marcasse a vitória dos portugueses contra os seguidores de Maomé, que quiseram tomar Portugal. Nessa guerra contra os maometanos, o avó de Santo Antônio foi muito importante.
Para tomar conta do mosteiro, que ficava fora da cidade de Lisboa, o Rei convidou os religiosos chamados Agostinianos, que já tinham um mosteiro em Coimbra, o de Santa Cruz. Os Agostinianos eram muito estudados, possuíam terras e se relacionavam muito bem com os nobres, ricos e letrados da região.
Foi para o mosteiro de São Vicente de Fora que Santo Antônio entra para a vida religiosa, em 1210, com a idade de 15 anos. Sofreu a resistência de seus pais e parentes que queriam que seguisse uma outra carreira mais vantajosa de glórias, poder e riqueza, mas nosso santo tinha escutado o chamado de Deus e manteve-se firme em sua decisão.
Mas a vida para Antônio no mosteiro foi difícil, sobretudo porque seus parentes queriam interferir demais, oferecendo-lhe facilidades e conseqüentemente o interesse dos cônegos em manter um relacionamento social estreito com nobres e ricos incomodavam a Antônio. Ele queria uma vida que correspondesse às exigências do Evangelho.
Assim, dois anos mais tarde, em 1212, foi transferido para o mosteiro de Santa Cruz e lá encontrou ambiente propício para seu crescimento humano e espiritual. Dos Sermões que nos deixou, pode-se concluir que Antônio aproveitou intensamente as possibilidades de estudo que lhe foram oferecidas em Coimbra. Possuidor de uma memória extraordinária dedicou-se em especial ao estudo das Sagradas Escrituras, encontrando para isso mestres dedicados e um mosteiro com uma biblioteca bem provida, possuindo também as obras de Santo Agostinho, que inspirava a vida dos cônegos agostinianos.
Nosso santo fez das Escrituras aquilo que o salmista já afirmara: “Tua Palavra a é luz para os meus passos”. Nas Escrituras encontrou a verdadeira sabedoria que está na vida de Jesus Cristo que “é poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Cor 1,24).

“Partiu para os desafios do mundo”

Não se pode negar a importância que teve para Antônio a passagem pelos mosteiros dos agostinianos, tanto em Lisboa quanto em Coimbra. Dificuldades não faltaram, mas também as oportunidades para uma formação espiritual e teológica que o firmaram na fé e no amadurecimento para futuras decisões são inegáveis. E o nosso santo tem consciência disso e sabe ser agradecido àqueles que o ajudaram a percorrer esse caminho. Mas a vida no mosteiro de Santa Cruz estava limitada demais para alguém que se caracteriza pela “inquietação evangélica”. E essa inquietação aumenta quando chega a Portugal, no ano de 1217, o sopro renovador e missionário do movimento religioso iniciado por Francisco de Assis, e que nem tinha dez anos de existência. Os franciscanos estavam presentes em Coimbra e em Lisboa.
O modo de vida, marcado pela pobreza, simplicidade e proximidade do povo marcava a presença dos irmãos menores. Dois anos mais tarde, em 1919, São Francisco enviou em missão entre os maometanos cinco frades, Berardo, Pedro, Oto, Adjuto e Acúrsio. Foram anunciar o evangelho entre os sarracenos em Servilha, Espanha, dominada por eles. Lá foram condenados à morte, mas receberam indulto de liberdade e expulsos do país. Mas insistentes foram para o Marrocos e lá sofreram o martírio, sendo decapitados no dia 16 de janeiro de 1220. Seus corpos foram levados para Portugal e sepultados no mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, onde morava Santo Antônio.
O testemunho dos frades mártires e a proposta de vida evangélica lançada por Francisco de Assis a toda a Igreja, mexeu com Antônio que pediu para sair do mosteiro e ir para o Ordem dos Frades Menores. Foi difícil receber a autorização do superior mas Antônio conseguiu. Diz-se que um dos cônegos despediu-se de Antonio dizendo, certamente com ironia: “Vai, pois, vai, agora podes enfim tornar-te santo!” Também dizem que Antônio respondeu: “Se acaso ouvires alguma vez que eu me tornei santo, então louva o Senhor Deus”. Tinha razão, Antônio será o “santo do mundo inteiro” e vai se santificar no contato diário com as pessoas, ajudando-as a encontrar em Deus o sentido para viver e para enfrentar os desafios da vida. A vida de Antônio não foi fácil, mas jamais procurou as facilidades deste mundo, sabia que o caminho do Senhor é estreito e é nele que caminhamos para a verdadeira felicidade.

“Firmou-se na virtude da humildade”

Foi em 1220 que Fernando saiu do mosteiro agostiniano e entrou na Ordem franciscana. E como o conventinho dos frades em Coimbra tinha como padroeiro o eremita Santo Antão, foi esse o nome que Fernando recebeu agora como frade menor: Antônio. O costume de mudar o nome tem fundamento bíblico e quer significar começo de uma nova vida, com uma nova identidade. Logo Antonio manifestou o desejo de ser missionário no Marrocos, mostrando assim que o exemplo dos cinco mártires franciscanos marcou profundamente a sua vida.
Pelo fim de 1220 recebeu a licença de seus superiores e partiu para o Marrocos em companhia de outro frade de nome Filipe. Chegou ao Marrocos, mas adoeceu de uma doença febril por um longo período no ano de 1221. Foi aconselhado a voltar para a terra natal e na viagem de regresso, mesmo não sendo tempo de tempestades, um forte vento arrastou o barco para a costa da Sicília, Itália, ao invés de ir para Espanha ou Portugal.
Acolhido pelos frades em Messina, na Sicília, foi compreendendo os caminhos misteriosos da vontade de Deus e humildemente submetendo-se à Sua vontade.
No fim de maio de 1221, Antônio participou do Capítulo geral da Ordem, em Assis, vindo a conhecer São Francisco. Após o Capitulo, Antônio é designado para morar no norte da Itália. No conventinho de Monte Paolo, viveu uma vida de recolhimento e também assumiu as tarefas de lavar a louça e limpar o chão.
Neste contexto de vida de oração e trabalhos humildes é convocado para receber a ordenação sacerdotal, em 1222. E é justamente na festa de ordenação, na hora da refeição festiva que é convocado pelo superior para fazer uma pregação improvisada. Sua pregação impressionou a todos e a partir daí, foi designado para a atividade do apostolado e da pregação.
Antônio experimenta na própria pele a palavra do Senhor no Evangelho: “Quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lc 14,11).
Para quem pretendia ser mártir no Marrocos e teve de tomar caminhos tão diversos, entende que a vontade de Deus só pode ser compreendida pelos humildes. Daí dizer que “a humildade é a mãe e a raiz de todas as virtudes”.

“Foi defensor dos oprimidos”

Santo Antônio viveu comprometido só com o Evangelho. Foi o que ele buscou viver entre os franciscanos que tinham sua Regra de vida que começava assim: “A Regra e a vida dos frades menores é viver o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, em obediência, sem nada de próprio e em castidade.

Quando uma pessoa tem compromisso só com o Evangelho, torna-se livre para anunciar o que Deus inspira e denunciar tudo o que está contra a Sua vontade. Por isso, Santo Antônio foi sempre uma pedra de tropeço para quem andasse no caminho da injustiça e da opressão aos pobres.

Sua atuação como pregador foi o anúncio da vida em abundância para todos, mas em especial dos que dela são privados. Também Jesus inaugura sua missão evangelizadora, segundo o evangelho de Lucas, dizendo: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Notícia aos pobres...”(Lc 4,18). Jesus lê e diz que nele se cumpre a palavra de Deus anunciada pelos profetas.

Santo Antônio, cheio da força da palavra profética de Deus, atacava publicamente as injustiças e as desordens sociais.

Contra os que exploravam os pobres sempre teve palavras claras. Num de seus sermões afirma: “Quem aperta uma pessoa pela goela, tira-lhe a voz e a vida. As posses do pobre são a vida dele, e como a vida vive do sangue, ele deve viver disso. Se tirares aos pobres seus parcos haveres, estarás a sugar o sangue dele, estarás a sufocá-lo, e enfim tu mesmo serás sufocado pelo diabo”.

Durante sua vida de pregador, confrontou-se com um rico latifundiário chamado Ezzelino que, inclusive, quis matar Santo Antônio.

Outro fato que devemos conhecer é que Santo Antônio conseguiu a anulação de uma lei que vigorava em Pádua e em muitos lugares da Itália. Essa lei favorecia os agiotas da época pois punha na prisão perpétua quem não pudesse pagar suas dívidas. Também os fiadores sofriam o mesmo castigo. Nosso Santo consegue anular essa lei injusta e no dia 15 de março de 1231, o governo de Pádua promulga uma nova lei que dizia: “A pedido do venerável irmão santo Antônio, confessor da Ordem dos Frades Menores, para o futuro nenhum devedor ou fiador poderá ser privado pessoalmente de sua liberdade quando não puder pagar a dívida. Somente suas posses poderão ser apreendidas neste caso, não porém sua pessoa e liberdade”.

Como podemos constatar, Santo Antônio foi grande defensor dos pobres usando a arma da Palavra de Deus e o testemunho de sua vida.

“Foi mestre da Palavra para seus irmãos”


São Francisco queria que seus frades fossem homens simples, que pregassem a Palavra de Deus com a força do testemunho e não com a eficiência da sabedoria aprendida nos livros. Daí sua resistência ao estudo da teologia. Mas sua Ordem tinha um papel a realizar no meio de tantos grupos heréticos que confundiam a cabeça do povo e eram ousados na pregação.

Muitos frades já manifestavam o desejo de uma preparação teológica que desse condições para anunciar com segurança a Palavra de Deus e o ensinamento da Igreja.
Antônio tinha condições de ajudar os irmãos nesta necessidade. Francisco compreendeu que era necessário ceder, embora colocando a condição fundamental para isso: o saber não tem um fim em si mesmo e nem deve ser meio para os irmãos adquirirem honra e fama perante os homens.

A permissão de São Francisco para Santo Antônio ensinar a teologia vai por meio de uma pequena carta com o seguinte conteúdo: “Eu Frei Francisco, saúdo a Frei Antônio, meu bispo.

Gostaria muito que ensinasses aos irmãos a sagrada teologia, contanto que nesse estudo não se extingam o espírito da santa oração e da devoção, segundo está escrito na Regra. Passar bem.

Ao chamar Santo Antônio de “meu bispo”, São Francisco quer indicar que a missão de Antonio se parece com a do bispo que na diocese é, por excelência, o administrador e distribuidor da Palavra de Deus.

Sabemos pouco sobre a atividade de Santo Antônio como professor de teologia! Mas os esquemas de seus sermões que ainda hoje nos encantam, nasceram nesta ambiente de ensino e certamente a pedidos dos frades que queriam aprender a partir daquilo que Santo Antônio falava ao povo.

Um dos primeiros frades a escrever a vida de São Francisco, Frei Tomás de Celano, assim se refere à presença de Santo Antônio no Capítulo da Ordem dos Frades Menores do ano de 1221: “Estava participando do Capítulo também Frei Antônio, a quem o Senhor abrira a inteligência para compreender as Escrituras, e que falava de Jesus a todo o povo com palavras mais doces que o mel e o favo” (1C 48).

E Antônio não decepcionou São Francisco, pois, ensinou aos frades a sagrada teologia somente para cultivar o gosto pela Palavra de Deus e iluminar a vida com a luz radiante da Palavra eterna que é o próprio Jesus.

“Foi profeta dentro de casa e no mundo”

Santo Antônio percebia que o surgimento de tantos movimentos religiosos em sua época e que terminavam na heresia, era causada, em grande parte, pelos próprios representantes oficiais da Igreja. No meio do clero não eram poucos os que relaxavam em suas obrigações pastorais e o mau exemplo de vida escandalizava os fiéis.
Falava Santo Antônio: “Os sacerdotes da Igreja não possuem a luz da sabedoria nem tampouco as verdadeiras virtudes no modo de agir, de maneira que o diabo dispersa as ovelhas e o ladrão, isto é, o herege, as arrebata para si”.
Nosso santo não poupou sua palavra profética contra o clero ganancioso e simonista, isto é, que ganhava dinheiro vendendo as coisas sagradas. Antônio o chama de “outros filhos de Jacó” que venderam seu irmão, José, por vinte moedas aos ismaelitas. Santo Antônio dizia: “Hoje José é Jesus que continuais vendendo”.
A palavra de Santo Antônio tem força por causa do testemunho que dá, e também porque a crítica que faz quer ser um apelo à conversão de todos que estão errados. Assim sendo, Antônio acorda os de dentro da Igreja e os que estão fora. A sua palavra profética denuncia todo mau exemplo, injustiça ou opressão que comprometem o plano de Deus para a humanidade inteira. Para Antônio a humanidade não possui a justiça de Deus “porque não O teme, desonra a religião, odeia o bem, torna-se ingrato para com Deus...”
Todos são chamados à santidade. Para ele “os santos nasceram para o bem do mundo porque a santidade é uma virtude que acaba beneficiando a todos”.
Se vivemos em Cristo, nossa vida iluminada na Dele, é luz que incomoda as trevas. Santo Antônio entendeu muito bem o que Jesus quis dizer quando afirmou: “Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo...” (Mt 5,13.14).

“Foi mestre da oração”


Santo Antônio foi mestre da oração para todos, mas em especial para as pessoas simples com quem falava e partilhava sua missão de pregador do Evangelho. Por isso, ao se referir à oração, ele afirma:
“Se alguém quiser rezar ou meditar melhor, procure então representar para si em imagens claras a humanidade de Cristo, seu nascimento, sua paixão e sua ressurreição!” E continua: “Esta maneira de meditar costuma dar aos pobres em espírito e aos filhos de Deus mais simples uma felicidade tanto maior no amor, quanto mais se aproximarem da humanidade Dele”.
Antônio está em sintonia com a espiritualidade de Francisco e de Clara: de Francisco nasce o presépio para contemplar o mistério da encarnação, e a via-sacra para meditar o mistério pascal do Senhor. Santa Clara, escrevendo a uma de suas irmãs, Inês, pede que a cada manhã, contemple como num espelho a vida de Cristo procurando assemelhar ao Seu rosto.
A oração franciscana é marcada pela simplicidade das palavras e a riqueza das atitudes interiores e corporais. A simplicidade faz-nos falar com a linguagem da vida, já a riqueza das atitudes interiores aparece no reconhecimento de quanto somos pequenos diante da grandeza de Deus. Mas isso me enche de alegria, de humildade e confiança que me leva a entregar-me plenamente nas mãos de Deus. As atitudes corporais significam a sintonia com a natureza e o reconhecimento de que a criação reza conosco.
Santo Antônio não nos deixou um método de oração, mas em suas palavras encontramos muitas orientações concretas e seguras para buscarmos e vivermos a intimidade com o Senhor: “O bom mestre nos convida para longe da multidão inquieta: Vinde para a solidão do corpo e da alma”. Outra afirmação interessante de nosso santo é: “A vida do corpo é a alma, a vida da alma é Deus”.
Santo Antônio dizia: “Podemos rezar de três modos: com o coração, com a boca e com as mãos”. Rezar “com o coração” com a atitude do verdadeiro orante que reconhece diante de Deus sua pequenez, sua pobreza e reza na humildade. Mas mesmo nesta condição nossa boca não pode calar quando o coração sente a força da misericórdia de Deus e assim “a boca fala daquilo que o coração está cheio”. E à semelhança da Samaritana, temos de dizer: “Venham ver um homem que me disse tudo o que eu fiz” (Jo 4,29). Mas o coração que acolhe a misericórdia e a boca que a proclama leva a pessoa a agir bem, como dizia o próprio Jesus: “Que a vossa luz brilhe diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e louvem vosso Pai que está no céu” (Mt 5,16).

“Proclamou as maravilhas da Trindade”

Em Jesus entramos em comunhão com o mistério de Deus. Jesus nos revela o rosto do Pai e nos dá o Espírito Santo. Em Deus não há solidão, mas comunhão das Três divinas Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.
Santo Antônio proclamou com palavras belíssimas o mistério da Santíssima Trindade: “Na Trindade se encontra a origem suprema de todas as coisas e a beleza perfeitíssima e o deleite beatíssimo. A origem suprema é Deus Pai, de quem procedem todas as coisas, de quem provêm o Filho e o Espírito Santo. A beleza perfeitíssima é o Filho, verdade do Pai, que lhe não é dessemelhante em ponto algum. O deleite beatíssimo e a soberana bondade é o Espírito Santo, dom do Pai e do Filho”.
Nestas palavras encontramos o ensinamento da Igreja associado à beleza e as comparações que Santo Antônio usava pala falar de mistério tão grandioso. Noutro sermão, ele usa uma comparação com a palavra “paz”, em latim, pax: “Na palavra PAX, há três letras e uma sílaba, em que se designa a Trindade e a Unidade: no P, o Pai; no A, primeira letra, o filho, que é a voz do Pai; no X, consoante dupla, o Espírito Santo, procedente de ambos. Assim, ao dizer Jesus aos discípulos: 'A paz esteja convosco', recomenda a fé na Trindade e na Unidade”.
Muitas vezes temos dificuldade de falar da Santíssima Trindade e Santo Antônio numa linguagem comparativa, alegórica, fala com simplicidade do mistério de Deus. Mas Antônio quer mostrar, sobretudo, as conseqüências de nossa fé na Trindade Santa. A conseqüência fundamental para quem acredita da Trindade é que nossa vida só tem sentido e só pode ser vivida em comunhão com os outros, com a criação e com Deus. A beleza da vida está na comunhão e na comunicação. É verdade que, na prática, tendemos à solidão e ao isolamento. Mas vibra em nós a realidade de Deus, a verdade suprema que é não a solidão de uma Pessoa, mas a comunhão e a comunicação das Três divinas Pessoas em um só Deus.
Santo Antônio afirma com beleza: “Na Trindade não se devem fazer degraus, de modo que o Pai se creia maior que o Filho, ou o Filho menor que o Pai, ou o Espírito Santo menor que ambos; mas deve-se acreditar que são simplesmente iguais, porque qual é o Pai, tal é o Filho e tal é o Espírito Santo”.
Pelo Batismo mergulhamos na vida da Trindade Santa e nos tornamos instrumentos de unidade na diversidade.
“Senhor, a luz do teu rosto, a luz da graça que estabelece em nós a tua imagem e nos torna semelhante a ti, está gravada em nós, impressa na razão como selo em cera”.

“Anunciou o mistério da Encarnação do Verbo”

“Ele veio a ti para poderes ir a Ele”. Essa afirmação é o centro do pensamento e da espiritualidade de Santo Antônio. De fato, a espiritualidade franciscana firma-se em duas colunas: a encarnação (Natal do Senhor) e a redenção (Mistério Pascal). Santo Antônio reforça de modo muito próprio a riqueza da espiritualidade de São Francisco e Santa Clara. Por isso podemos falar em espiritualidade antoniana.

Santo Antônio nos mostra a bondade do Senhor que assumindo a condição humana, no seio de Maria, trouxe-nos a salvação e nos habilitou como filhos de Deus: “Para nós homens Te tornaste homem, a fim de nos salvar. Pelo que sofreste, aprendeste a misericórdia. A nenhum anjo podemos dizer: Eis que és nosso osso e nossa carne; mas a Ti, Filho de Deus, na verdade podemos dizer: És nosso osso e nossa carne, pois assumiste não a natureza dos anjos, mas a natureza dos descendentes de Abraão. Tem, pois, piedade de nós, que somos teu osso e tua carne. Quem por acaso odiou sua carne? Tu, porém, és nosso irmão e nossa carne; por isso deves ter misericórdia e compaixão com teus pobres irmãos, pois temos um só Pai, Tu e nós – Tu pela natureza e nós pela graça. Tens poder na casa de teu Pai, não nos expulseis daquela santa herança, um vez que somos na verdade teu osso e tua carne. Antigamente os filhos de Israel transportaram os ossos de José para a terra prometida; tira-nos também – teu osso e tua carne – destas trevas do Egito e leva-nos para a terra dos santos”.

Antônio anuncia com entusiasmo e alegria o mistério da encarnação que é o coração da fé cristã, pois nele se revela aquela iniciativa amorosa de Deus descrita por São João da seguinte forma: “Nisto consiste o amor, não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou, e nos enviou o seu Filho como vítima expiatória por nossos pecados” (1Jo 4,10).

Pela encarnação de Jesus no seio da Virgem Maria, Deus veio a nós para que nós possamos ir até Ele. Neste ensinamento de Santo Antônio encontramos o próprio ensinamento do Evangelho quando Jesus diz: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14, 6).

“Amou a Virgem Maria”

Não temos certeza absoluta quanto a data do nascimento de Santo Antônio, mas aqueles que procuraram escrever sua vida dizem que foi no dia 15 de agosto de 1195. Não estaria essa data relacionada ao amor que nosso santo tinha à Mãe do Senhor. 15 de agosto é a solenidade da Assunção da Virgem Maria.
Não se pode negar a devoção que Santo Antônio tinha à Mãe de Jesus. Dizem que ele faleceu com o nome de Maria nos lábios pois, desde criança aprendeu a invocá-la e em toda sua vida foi-lhe profundamente devoto. Encontramos seis sermões de Santo Antônio dedicado à Virgem Maria e neles a homenageia com títulos admiráveis: “Trono místico de Cristo”, “Trono de marfim pela sua brancura, ao qual se sobe pelos seis degraus das virtudes marianas: vergonha, prudência, modéstia, constância, humildade e obediência”. Antônio também compara Maria ao lírio, a um vaso de ouro, à oliveira, ao cipreste, ao arco-íris e à porta do céu. Também à chama de nova Ester.
Santo Antônio tem afirmações profundas em que encontramos o mistério da Virgem Maria sempre relacionado com o de Jesus Cristo: “A criatura carregou no seio seu Criador e a pobre Virgem o Filho de Deus”. “Tu és ao mesmo tempo o mais alto e o mais humilde! Senhor dos anjos e súdito dos homens! O Criador do mundo obedece a um carpinteiro, o Deus de eterna majestade se submete a uma Virgem”.
Outra afirmação interessante é esta: “Maria não só deve ser louvada por ter trazido no ventre o Verbo de Deus, mas também é bem-aventurada porque realmente guardou os preceitos de Deus”.
A reflexão que Santo Antônio faz sobre Nossa Senhora é profundamente enraizada na bíblia, na pessoa de Jesus e na missão da Igreja.
De Santo Antônio temos muito o que aprender sobre o seu amor à Mãe de Jesus.
“Tendo as numerosas virtudes brilhado de modo excelente em Maria Santíssima, a humildade superou-as a todas. Por isso, quase esquecendo as restantes, coloca à frente a humildade, dizendo: 'Olhou para a humildade de sua serva”.
Que o amor de Santo Antônio à Virgem Maria, Mãe de Jesus, nos ajude a anunciar aquilo que a própria Maria proclamou no Magnificat: “Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada” (Lc 1,48).

“Viveu nesta vida construindo a eternidade”


“Para quem se fixa no desejo da eternidade nada há no mundo que deseje, nada há do mundo que tema”. Estas palavras de Santo Antônio bem resumem o que foi sua vida: a busca da eternidade vivida no dia-a-dia em sua vida e missão.
Ele soube aproveitar o tempo que Deus lhe concedeu e que foram poucos, apenas 36 anos. E como diz o salmista, “Mil anos são aos teus olhos, Senhor, como o dia de ontem que passou, uma vigília dentro da noite” (Sl 89,4).
A transitoriedade da vida vivida no desejo da eternidade fez Antônio viver plenamente os seus dias para a glória de Deus e para a salvação de muitos, pois, como ele mesmo dizia: “A santidade é uma virtude que acaba beneficiando a todos”. E Antônio é o santo do mundo inteiro, apesar de sua ação missionária está localizada quase toda na Itália, seu testemunho evangélico ultrapassou não só o espaço geográfico, mas o tempo. Ainda hoje ele ilumina a vida de quantos busquem Aquele que veio a nós para que possamos ir a Ele!
Seus últimos dias foram vividos num lugar de vida de oração dos frades, um eremitério, em Camposanpiero, na zona rural, a uns dezoito quilômetros de Pádua. Aproximava-se o verão e o clima em Camposampiero era mais ameno, como também a tranqüilidade e a solidão para o encontro com Deus na oração e na meditação. Era tarde demais para recuperar as forças e restabelecer-se corporalmente. O seu sofrimento era grande com a hidropisia (barriga d'água) e asma. Segundo pesquisas em suas biografias mais antigas, há probabilidade de que nosso santo tivesse diabetes. O que sabemos é que não poupou seu corpo, seu tempo e sua vida. Deu-se totalmente ao anúncio do Evangelho.
Quando o quadro de sua saúde piorou, a seu pedido trouxeram-lhe para Pádua. Os frades o trouxeram num carro puxado por dois bois. Fui uma viagem longa e sofrida e que terminou em Arcella, na periferia de Pádua, na tarde de 13 de junho de 1231.
Sua morte foi logo anunciada aos cidadãos de Pádua de modo maravilhoso: sem que ninguém dissesse, as crianças de Pádua ficaram inquietas e começaram a dizer pelas ruas: “Morreu o padre santo. Morreu o padre santo”.
Houve muita disputa no enterro, pois alguns queriam que fosse enterrado onde morreu, em Arcella, outros no convento de Santa Maria, em Pádua. Mas finalmente, foi sepultado em Pádua, numa terça-feira, 17 de junho de 1231.
Não demorou nem um ano para que fosse canonizado. Na festa de Pentecostes, no dia 30 de maio de 1232, foi canonizado na catedral de Spoleto, pelo papa Gregório IX. Pela sua vida a serviço da glória da Trindade Santa e da salvação da humanidade, “ele mereceu ser colocado não debaixo do alqueire, mas no candelabro da Igreja católica”, para que seu exemplo continue iluminado a vida de todos.

Pensamentos de Santo Antônio:

“O paraíso é a primeira casa do homem”.
“Onde houver justiça, aí haverá sabedoria, e onde houver sabedoria, aí está o paraíso”.
“O paraíso é a terra dos vivos, possuída pelos humildes”.
“Celebramos a festa dos santos para aprender com o exemplo de suas vidas” e ainda, “os santos nasceram para o bem do mundo porque a santidade é uma virtude que acaba beneficiando a todos”.
“A pobreza reveste a alma de virtudes, as riquezas temporais a desnudam”.
“É raro o dano que não provenha da abundância”.
“A pobreza do filho de Deus foi tamanha, que na morte não teve sudário em que fosse envolvido nem túmulo em que fosse sepultado, se não lhe fossem dados, a titulo de misericórdia e de esmola, como se tratasse de pobre mendigo”.
“Como o homem exterior vive do pão material, o homem interior se alimenta do pão celeste, que é a Palavra de Deus”.
“Quem não ouve a Palavra de Deus e não observa a lei da caridade queima em vão o incenso da oração”.
“A palavra é viva quando falam as obras. Cessem, pois, as palavras e falem as obras. Estamos cheios de palavras mas vazios de obras!”
“Escuta como a Escritura consola o que padece tribulação: Quando tu passares pela água, eu estarei contigo e os rios não te cobrirão. Quando caminhares por entre o fogo, não serás queimado e a chama não arderá em ti, porque eu sou o Senhor teu Deus”.
“Assim como no favo há mel e cera, também na vida do homem justo há o mel da doçura interior e a cera da adversidade. A cera funde-se e desaparece na presença do fogo, na presença do amor divino”.
“Toda obra boa toma seu princípio na humildade”.
“A humildade é a mais nobre de todas as virtudes”
“A casa compreende alicerces, paredes e teto. Os alicerces simbolizam a humildade; as paredes o conjunto das virtudes: o teto a caridade. Onde estes três elementos se encontram reunidos, aí está o Senhor”.
“A pregação deve ser sólida, isto é, rica da plenitude das boas obras, propondo palavras verdadeiras, não frívolas, não apenas bonitas”.
“A pregação deve ser reta, não vá o pregador desfazer em suas obras o que disse no sermão. De fato, perde-se a autoridade de falar, quando a palavra não é ajudada pelas obras”.
“O estrume reunido em casa exala mau cheiro; disperso, fecunda a terra. Assim acontece com as riquezas: devem ser dispersas, isto é, distribuídas e restituídas aos pobres, que são seus donos, e assim hão de fecundar a terra do espírito e fazê-la frutificar”.
“Só te pertence o que podes levar contigo na morte”.
“Como o ouro está acima de todos os metais, assim a ciência sagrada sobressai a toda ciência”.
“A vida contemplativa não foi instituída por causa da ativa, mas a vida ativa por causa da contemplativa”.
“Também o corpo tem seus profetas que lhe dizem: 'Para que serve o teu jejuar? Para que toda essa tortura? Vais adoecer; tornar-te-ás tão fraco que não poderás ser útil nem a ti nem aos outros'. Entretanto, a respeito desses videntes está escrito: 'Teus profetas anunciam a ti mentiras e engano”.
“Assim se tornam algumas pessoas, que antes de entrar para o convento viviam em casa de modo simples, mas apenas entraram para o convento começam a mostrar-se cheias de exigências. Esses tais não têm sua alegria na oração, mas na ociosidade e na preguiça... Viso àqueles que moram na igreja de Deus, mas vivem na ociosidade e no relaxamento, que em vez do silêncio da oração procuram a tagarelice e a conversa dos ociosos”.
“A doutrina de Cristo parece dura, porque ensina a dominar o corpo e desprezar o mundo. Por isso não se gosta de escutá-la”.
“Praticar uma boa obra é orar sem interrupção”.
“Somos templos de Deus e santos, se formos contemplativos, renunciando aos bens temporais; se mortificarmos nossa carne; se nos compadecermos do próximo”.
“O Espírito Santo é enviado pelo Pai e pelo Filho. Os três são de uma só substância e de inseparável igualdade. A unidade está na essência; a pluralidade nas pessoas”.
“Assim como a moeda se cunha com a imagem do rei, também nossa alma é gravada com a imagem da Santíssima Trindade”.
“Bem-aventurado o ventre da gloriosa Virgem, que mereceu trazer por nove meses todo o bem, o sumo bem, a felicidade dos anjos, a reconciliação dos pecadores”.
“Cristo na verdade veio em nosso socorro ao dar-nos sua divindade e aceitar nossa humanidade, para que pudéssemos ser aceitos no reino de Deus, uma vez que dele estávamos excluídos. Para que tivéssemos acesso ao céu, ele o deixou”.
“Porque o homem estendeu sua mão para apossar-se da glória da majestade divina, Deus se desfez da sua poderosa glória e na sua humildade se acomodou ao homem”.
“Alma de santo algum reuniu tantas riquezas de virtudes como a de Maria Santíssima. Por causa da insígnia da sua humildade, da flor ilesa da sua virgindade, mereceu conceber e dar à luz o Filho de Deus”.
“Maria é a estrela do mar. Ela é a estrela deslumbrante, que ilumina a noite e guia ao porto”.
“Maria: nome amável aos anjos, terrível aos demônios, salutar aos pecadores, suave aos justos”.
“Maria Santíssima ao dar a luz o Filho de Deus o envolveu em paninhos da áurea pobreza. Ó ouro ótimo da pobreza! Quem não te possui, ainda que possua todas as coisas, nada possui”.