segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Conheça a história de Frei Sinibaldi, que deu a vida por salvar 17 jovens da morte.


FREI DO AMOR E DA BONDADE »

Publicação: 23/09/2012 09:37
 (Neidson Moreira/OIMP/DA Press)
Evangelizar, acolher e consolar os excluídos da sociedade fazia parte da missão franciscana do frei italiano Antonio Sinibaldi. Desde sua chegada em São Luís, em 1971, o frei se dedicou a evangelização de jovens, crianças carentes e prostitutas, abraçando com amor os necessitados de uma palavra de carinho, solidariedade e amizade. Sinibaldi pode ser o primeiro beato em terras maranhenses se ocorrer o testemunho de um milagre seguido de comprovação cientifica. O processo de beatificação,comandado pelos freis da Paróquia de São Francisco de Assis, já investigou a vida de Sinibaldi, recolheu vários objetos pessoais, ouviu testemunhos do exercício da caridade, depoimentos dos jovens salvos por ele no acidente marítimo e, para ser encerrado, aguarda somente o aparecimento de um milagre. "Alguém precisa relatar, que após diversas orações ao frei, foi curado de uma grave doença. Mas este milagre precisa ser comprovado cientificamente com a exposição de exames. Quando isto ocorrer, aí sim o frei Antonio será beatificado. Vale explicar que não existe um prazo para este milagre acontecer, a qualquer momento o testemunho de um milagre pode surgir", esclareceu frei Valdo Nogueira, um dos responsáveis pelo recolhimento de material do processo de beatificação.

Matilde Vieira, Reza no tumulo do Frei Antonio Sinibaldi. (Neidson Moreira/OIMP/DA Press)
Matilde Vieira, Reza no tumulo do Frei Antonio Sinibaldi.


Fundador e pároco da Paróquia de São Francisco de Assis, Sinibaldi desenvolveu na comunidade do São Francisco, Renascença e adjacências, projetos sociais de resgate da auto-estima, como "Ninho", ensinamentos de liturgia a jovens marginalizados e ainda, criou duas creches escolares para acolher os filhos de famílias carentes. 

Durante 16 anos que ficou em São Luís, frei Antonio Sinibaldi esteve à frente da Missão São Boaventura no Maranhão, atuando como ministro e servo da comunidade, foi um dos professores mais aplicados do Centro de teologia do Maranhão ao lecionar a disciplina Liturgia. Com seu dedicado trabalho foi convidado por Dom Paulo Pontes, Arcebispo de São Luís naquela época, para coordenar o movimento das pastorais a nível de Arquidiocese. Esteve também presente junto à Comunidade do Colégio Santa Teresa, acolhendo as mulheres excluídas da sociedade, as prostitutas do projeto social desenvolvido por ele e denominado de "Ninho".

Seguidor do Pai São Francisco, corria em suas veias um sangue fraterno e protetor dos menores e desamparados, e é ali, nos menores de rua do bairro São Francisco, que o frei encontra seus filhos sedentos, não só de alimento, mas de braços acolhedores e de caridade fraterna.

Àqueles que conviveram com Sinibaldi relatam sua bondade, paciência e serenidade. Manoel Rego, morador do São Francisco há mais de 30 anos, contou que ao chegar em São Luís não tinha onde morar e juntamente a outras famílias construíram pequenos barracos em uma travessa do São Francisco, mas que meses depois foram expulsos por ordem do governo. No entanto, frei Antonio Sinibaldi lutou pela moradia daqueles necessitados e ajudou as famílias na construção de um conjunto localizado na travessa 4 do mesmo bairro. "O frei era um homem abençoado, muito querido por todos da comunidade, sua vida foi dedicada a fazer o bem pelo próximo. Eu era muito jovem e humilde quando cheguei à São Luís, e se não fosse ele muita gente como eu não teria ficado aqui no bairro. Devo não só minha moradia a ele, mas também a educação dos meus três filhos que estudaram na creche fundada por ele", disse Manoel. Continua na página 02.
 (Neidson Moreira/OIMP/DA Press)



ACIDENTE
Era manhã do dia 07 de setembro do ano de 1987, 17 jovens animados saíam de suas casas para conhecer a Ilha do Meio, hoje denominada de Ilha do Medo, localizada na baía de São Marcos. O passeio organizado pelo frei Antonio Sinibaldi, reuniu não só jovens da Paróquia de São Francisco de Assis, mas também jovens carentes de comunidades próximas. A intenção do frei, além de conhecer o local, era realizar uma missa ao ar livre. Dália do Socorro Aranha, hoje com 43 anos, era uma das jovens que sobreviveu ao naufrágio. Dália conta que todos estavam muito felizes por serem os primeiros jovens do bairro a conhecer a Ilha do Medo, mas que ao avistarem a pequena canoa de mastro que os transportaria até a ilha, receio e temor tomaram conta dos jovens. "A canoa era pequena demais para levar 17 jovens e o frei. Quem ia remar era um senhor com o filho pequeno, ou seja, não havia segurança. Mas mesmo assim, resolvemos arriscar e entramos, mesmo receosos, na canoa".

Durante o percurso, os jovens cantarolavam e o frei sorria ao ver a alegria daqueles que tanto zelava. Em um determinado momento do trajeto, o vento forte balançou três vezes o mastro, e em uma delas, o frei se machucou. "Ficamos com mais medo ainda e preocupados com o que viria pela frente. De repente, outro vento forte nos assolou e a canoa emborcou. Foi aquele desespero para se salvar, gritos, choro, e nada mais podia ser feito para evitar o acidente", relatou Dália.

Diante do caos, graças à coragem de Frei Antonio, exímio nadador, campeão de natação na Itália, retirou cada jovem das turbulentas águas. Assim, os 17 jovens foram salvos pelo frei Antonio Sinibaldi. "Ele ia e voltava para margem, salvando um por um. Era uma cena emocionante diante do tamanho sacrifício que ele fez", lembrou Dália.

Devido o extremo esforço físico para resgatar cada jovem, o frade franciscano, que usou de caridade em vida, foi vencido pelo cansaço. Seu coração fadigado não resiste e ele sofre em pleno mar um ataque cardíaco. "Quando olhei ele estava com a cabeça baixa e todos gritavam: o frei morreu, o frei morreu". Frei Antonio Sinibaldi, em um ato heróico e cristão, não poupando suas últimas forças, doou sua vida para salvar outras.

Assim, Frei Antonio parte feliz depois de uma vida cheia de dedicação ao próximo e caridade. Após a permissão de seus parentes da Itália, os paroquianos quiseram como forma de gratidão por todo bem realizado, depositar seu corpo em uma singela tumba do lado do presbitério da Igreja em que trabalhou durante 16 anos. 

Seu corpo permanece em um jardim idealizado por ele mesmo no interior da Paróquia São Francisco de Assis.A vida, os projetos sociais e os feitos de caridade de Frei Antonio Sinibaldi são lembrados por aqueles que conviveram com ele e preservam na memória a bondade de um autêntico franciscano que, como prova de amor ao próximo, abdicou de sua vida. 

Dália lembra que ao retirarem o corpo do frei, nenhum de seus trajes e pertences haviam se perdido no mar. "Ele saiu das águas vestido do mesmo jeito que entrou, calça jeans, camisa rosa e chinelo franciscano. Nada dele foi perdido, isso é um fato interessante".
Hoje, Dália é coordenadora de catequese da Paróquia de São Francisco de Assis e passa aos jovens e crianças que catequiza a mensagem de amor deixada pelo frei Antonio Sinibaldi. "Paz, solidariedade e amor ao próximo, é tudo que podemos fazer nesta vida".


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