Um ano de diaconado permanente
Dom José Belisário da Silva *
A identidade do diácono se encontra, antes de tudo, na ordem do ser. Ele recebe uma graça sacramental que determina o espírito com que exerce o seu ministério. Por isso, não deve, em primeiro lugar, ser definido a partir das funções ou dos poderes que lhe são confiados. Ele recebe uma marca indelével através da ordenação sacramental. É na sua significação que se encontra a especificidade do diaconado.(Diretrizes para o Diaconado Permanente, nº 33 – CNBB).
Neste mês de novembro completa-se um ano da ordenação do primeiro grupo de diáconos permanentes da Arquidiocese de São Luís. É uma data a ser festejada com alegria e gratidão, mas é também um tempo favorável para uma avaliação do caminho percorrido.
Numa sociedade marcada pelo fazer, há, antes de tudo, um risco a ser evitado, a saber, o risco de compreender o ministério diaconal numa perspectiva funcionalista, pragmática, reduzindo-o à prestação de serviços ou ao cumprimento eficiente de determinadas funções. Claro que as funções são importantes e devem ser desempenhadas com esforço e amor. No entanto, como afirmam as Diretrizes para o Diaconado Permanente, a identidade diaconal encontra-se, antes de tudo, na ordem do ser e não do fazer. Eis o desafio: ser um cristão diácono sempre, em todas as circunstâncias, e para sempre.
Numa sociedade marcada pela busca do poder, pela busca do interesse próprio, na qual até as relações humanas são mercantilizadas, onde o valor da pessoa é estabelecido pelo mercado, pelo poder e pelos bens que se têm, pela capacidade de produzir ou consumir, os diáconos devem nos ajudar a resgatar a lógica da gratuidade, na perspectiva da graça. Seria uma lástima entender o diaconado como busca de privilégios e honrarias.
O Documento de Aparecida fala dos “novos rostos dos pobres”. Ao lado de antigos problemas sociais que lamentavelmente perduram e, por vezes, se agravam, novos rostos de sofredores assomam à cena social – dependentes de drogas, detidos nas prisões, idosos abandonados, meninos de rua, enfermos e tantos outros. Perante esses “novos rostos dos pobres”, o serviço da caridade torna-se mais necessário e desafiador e pressupõe uma caridade inteligente e organizada, tanto de cunho emergencial como de cunho sócio-transformador.
Estamos vivenciando no Brasil uma grande diversidade de situações culturais. O pré-moderno, o moderno e o pós-moderno convivem e frequentemente se misturam. Essa situação exige do evangelizador uma atitude de abertura e de diálogo. Surgem novos areópagos que constituem verdadeiros desafios para a ação evangelizadora da Igreja. Esses novos areópagos são terreno propício para a presença e atuação dos diáconos permanentes.
Também o contexto eclesial propõe desafios ao diaconado permanente. O cenário religioso tem sofrido modificações nas últimas décadas. Multiplicação das novas denominações religiosas, a teologia da prosperidade, o crente visto como consumidor ao qual se devem satisfazer as necessidades pessoais, o proselitismo e a competição, o consumismo religioso, a privatização e a des-institucionalização da religião são mudanças que podemos perceber a olho nu e que são constatadas e analisadas pelas ciências sociais. O diácono permanente é convidado a compreender este novo cenário não para acomodar-se nele, mas para buscar transformá-lo a partir de posturas pastorais adequadas.
Um ano de diaconado permanente na Arquidiocese. Parabéns, diáconos! Somos gratos a vocês por corresponderem à vocação que Deus lhes concedeu.
*Arcebispo de São Luís
FONTE: cnd.org.br
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