terça-feira, 26 de março de 2013

Gari maranhense Maria Goreth receberá o prêmio "Reflexão e Ação, gente que faz"


Patrícia Cunha - Patrícia Cunha



Você pode imaginar uma pessoa positiva, o tempo todo pensando para cima? Pois então calcule isso em dobro e chegamos à ludovicense Maria Goreth Pereira Cantanhede, de 38 anos, mas com umabagagem  de quem já viveu e passou por muitas experiências, a mais marcante delas, como gari. Marcante por que foi graças a essa profissão que ela começou a ter seu talento conhecido e reconhecido, dentro e fora de São Luís. Tanto que agora, ela que já passou por tantos estados mostrando seu trabalho e história de vida, vai receber pela segunda vez, o prêmio Reflexão e Ação, gente que faz, dentro do programa Reflexão e Ação do canal pago TV Mundi (SP), do apresentador Nilo Belotto, na categoria Gente que faz tem a sua história.

A premiação é famosa por reconhecer o talento de pessoas que tem uma trajetória de vida especial marcada por lutas e superações, e que batalharam para conquistar algo. A entrega do prêmio será dia 3 de abril em São Paulo. Na ocasião ela fará uma exposição dos seus trabalhos artísticos como pintura em tela, livros e desenhos de moda. Goreth é artista plástica, artesã, estilista, escritora e dramaturga. "Eu fico muito feliz de ter meu talento reconhecido mais uma vez por esse programa e de saber que a minha história de vida pode inspirar outras pessoas", acredita Maria Goreth. 

Aos 10 anos Goreth começou a escrever poesias. A mãe, Terezinha Cantanhede Pereira (empregada doméstica e artesã), logo reconheceu o talento da filha, mas lamentava não poder publicá-las por falta de recursos financeiros. O pai, Raimundo Araújo, era pedreiro. "Já era uma vitória minha mãe me manter na escola. Ela não tinha condições de comprar nossos livros, imagina publicar. O tempo foi passando, mas eu nunca deixei de sonhar e acreditar que um dia seria poetisa", comenta a escritora.

Para ganhar algum dinheiro Goreth confessa que nunca ficou parada. Já foi babá, vendedora ambulante, de flores, dentre outras ocupações, até chegar a gari, aos 27 anos. E foi em um dia de comemoração à data, que ela teve oportunidade de mostrar suas poesias. O resultado disso foi a publicação do primeiro livro Confissões, diálogos e poesias (2004). "O Luís Jandir, que na época era diretor da Coliseu me ajudou muito. Daí por diante tive o apoio do então vereador Edivaldo Holanda Júnior para publicar o segundo livro, Garimpando poesias (2009)", conta Goreth.

Entre vassouras e canetas Garimpando poesias ficou pronto, e foi lançado na 3ª edição da Feira do Livro de São Luís. Na ocasião o apresentador Nilo Belotto estava no evento e conheceu o trabalho dela convidando-a a participar da premiação do seu programa. Ela se inscreveu e ganhou o primeiro lugar em 2010. O ano ainda foi marcante para a escritora que expôs seu livro na 9ª Bienal Internacional do Livro do Estado Ceará e na 21ª Bienal Internacional do Livro do Estado de São Paulo.

"Muitos me criticaram e me disseram que estar na Bienal de São Paulo era para quem tinha nome. Pois eu provei que eu tenho nome. Eu estive lá. Eu acreditei no meu sonho e realizei. Sempre meu pauto pela frase do escritor francês Victor Hugo que diz: 'eu caminho vivo no meu sonho estrelado'. Eu acredito nos meus sonhos", reforça Goreth.

"Para sonhos não há limites"

Goreth pode se identificar com a frase "Vim, vi e venci", proferida pelo general e cônsul romano Júlio César em 47 a.C. Ela conta que poderia ser improvável que uma gari publicasse três livros, expusesse seus trabalhos em feiras e virasse estilista e professora de artesanato. "Tenho muito orgulho do que já fui e do que sou agora. Filha de uma doméstica e de um pedreiro, convivendo em uma casa com doze pessoas, minha mãe às vezes deixava de comer para nos dar comida, mas eu nunca deixei de acreditar. Se hoje eu estou aqui é por que acreditei, e para sonhos não há limites", afirma.

O talento de Goreth passeia pelas artes plásticas, reciclagem, esculturas em E.V.A e diversas obras publicadas, as mais recentes Desejo Poético (2011) e Nos caminhos da poesia (2012). Todas autobiográficas. Para este ano Goreth deseja publicar o inédito Diário de Uma Poetisa e lançá-lo na Feira do Livro.

"Esse livro vem falando de toda a minha vida, da época em que eu passei fome, mas que nunca deixei de estudar por mais difícil que fosse; tem poesias reflexivas, românticas, falo dos meus sonhos e das realizações fazendo um recorte das minhas habilidades como artesã, escritora, estilista, enfim, tudo o que eu faço para que as pessoas saibam quem é a Goreth", diz ela.
Goreth ainda trabalha na Coliseu, mas hoje é professora de artesanato e quando é convidada vai contar sua história em outros lugares. Tendo a educação como suporte, ela está retomando a faculdade de Letras que havia trancado em 2008 por problemas pessoais. "As pessoas precisam acreditar que tudo é possível", diz.

Ela já recebeu um convite para a Bienal do Livro do Ceará em que será uma das homenageadas. Na ocasião ela deverá representar um texto teatral de sua autoria. Já em São Luís, ela se prepara para lançar um livro na Feira do Livro deste ano, sobre a vida dela utilizando a literatura de cordel. "Vai ser mais uma faceta", conta.

Prêmio
Em São Paulo após receber o prêmio Reflexão e Ação, dia 3, Goreth fará exposição dos seus trabalhos artesanais, literários e de moda, de 2 a 4; E no dia 5 ela ministrará palestras sobre a sua história de vida. A premiação consiste em um troféu e placa comemorativa. O prêmio acontece todos os anos durante aniversário do programa e reúne pessoas que viveram histórias de superação.

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