terça-feira, 24 de maio de 2011

Confirmado primeiro caso no Distrito Federal de mormo


O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento confirmou na sexta-feira (23) ter detectado o primeiro caso no Distrito Federal de mormo, uma grave enfermidade infecto-contagiosa que atinge os equídeos: cavalos, burros e mulas. O caso, registrado em Sobradinho, foi comunicado internacionalmente pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). A doença pode ser transmitida ao homem e, em 95% dos casos, é fatal. A contaminação pode se dar de duas formas: contato direto com o animal ou por meio de materiais infectados, como esporas e arreios.

Com a confirmação do caso, o trânsito interestadual de animais do DF para qualquer outra unidade da federação fica condicionado à apresentação de documento que comprove que o equídeo não está contaminado. A mesma exigência vale para a participação de cavalos em eventos hípicos realizados no DF. A última ocorrência de mormo no Brasil foi registrada em 2008, no estado de São Paulo.

"Solicitamos que os órgãos executores da defesa sanitária animal sejam orientados a (…) realizar levantamento pregresso de seis meses do trânsito interestadual de equinos (cavalos) procedentes daquela UF (o DF)", afirma circular interna, enviada pelo diretor do Departamento de Sanidade Animal, Jamil Gomes de Souza, aos servidores do setor do Ministério da Agricultura. O animal infectado está isolado no Hospital Veterinário da Universidade de Brasília (UnB), localizado na Granja do Torto, desde dezembro do ano passado. Segundo informações do próprio ministério, ele pertence a um carroceiro e foi internado com suspeita de pneumonia.

Mesmo depois de iniciar o tratamento com antibióticos, o cavalo não apresentou melhora e uma nova análise clínica foi feita pelos veterinários da UnB. O resultado do exame revelou a possibilidade de o animal estar com mormo. De imediato, a ocorrência foi comunicada ao Ministério da Saúde, por meio da Vigilância Sanitária do DF. Em seguida, o animal passou por outros três testes até que o quadro clínico fosse oficialmente confirmado. Os exames foram realizados no Laboratório Nacional Agropecuário em Pernambuco — Lanagro/PE. Um último teste foi feito nos Estados Unidos (EUA).

"Este é não só o primeiro caso no DF, como também no Centro-Oeste. Até o momento trata-se de uma situação pontual. O que queremos é evitar que surjam outros casos", explica o coordenador-geral do Departamento de Sanidade Animal (DSA) do Ministério da Agricultura, Guillherme Henrique Figueiredo. Em 2006, casos da doença foram registrados no Paraná e em Santa Catarina. Já no Norte e no Nordeste, as ocorrências da enfermidade são constantes. "Outros equinos que conviveram com esse animal infectado do DF já foram identificados e estão passando por exames laboratoriais. Os diagnósticos preliminares são suspeitos, mas, agora, precisamos de testes complementares", destaca. O objetivo, segundo ele, é aprofundar a investigação em relação a esses animais para descartar a existência de outros casos.

Sacrifício
De acordo com as informações oficiais, os veterinários que tiveram contato com o cavalo infectado utilizaram, desde o início, equipamentos de proteção, como luvas, botas e máscaras. Fontes ouvidas pelo Correio, no entanto, afirmam que, antes da confirmação, o clima era de medo entre os profissionais. Segundo a legislação que trata da doença — a Instrução Normativa do Ministério da Agricultura nº 24, de 2004 — caso o mormo seja confirmado, o animal deve ser, obrigatoriamente, sacrificado. O equino infectado no DF, no entanto, ainda permanece isolado em uma baia, dentro de um galpão, no hospital da UnB, e deve ser morto no início da próxima semana. "Não há urgência. Estamos coletando novas amostras até mesmo para fazer o sequenciamento genético da bactéria e constatar o grau de semelhança com os outros casos notificados no Brasil", afirmou Guilherme. De acordo com a professora da UnB e médica veterinária Roberta Godoy, o tratamento do animal seguiu todos os processos de segurança recomendados. "Desde o início, o animal foi isolado enquanto aguardávamos o resultado dos exames", destacou.

A confirmação do caso pode trazer implicações econômicas para o DF, uma vez que o trânsito de animais para outros países pode ficar comprometido. Em ocorrências registradas anteriormente no país, o comércio internacional já chegou a ser interrompido temporariamente. "Tudo depende do país de destino, alguns têm restrições mais severas, mas nada é definitivo", considera o coordenador da DSA.

Especialistas ouvidos pelo Correio acreditam que, com a obrigatoriedade de os cavalos realizarem o exame para ter liberada a Guia de Trânsito Animal (GTA), novos casos da doença podem ser descobertos no Distrito Federal. Até então, o único exame exigido era o de Anemia Infecciosa Equina (AIE). A origem do animal infectado em Sobradinho também é alvo de especulação. Segundo uma fonte que preferiu não se identificar, ele não teria qualquer sintoma aparente da doença, como nódulos visíveis na pele, o que caracterizaria tratar-se de um animal bem cuidado e corretamente alimentado, situação bem distinta da realidade dos cavalos que puxam carroças.

Febre alta e pneumonia
O mormo é causado pela bactéria Burkholdelia mallei, que pode contaminar o homem e outros mamíferos, sendo mais comum em cavalos. A contaminação ocorre pelo contato com material infectante— pus, secreção nasal, urina ou fezes — que pode penetrar por via digestiva, respiratória, genital ou cutânea, quando existem lesões. Ao cair na circulação sanguínea, a bactéria alcança, principalmente, os pulmões e o fígado. "A doença pode ser detectada por meio de um exame de sorologia, pelo método de fixação de complemento. Esse método é mundial e pode ser utilizado tanto para animais como para humanos. Trata-se de um teste de autosensibilidade e especificidade", explica a veterinária Michelle Abreu, responsável técnica pelo único laboratório do DF autorizado a realizar o exame.
De acordo com a médica, o exame reconhece exclusivamente anticorpos específicos da infecção. "Todos os proprietários de equinos e pessoas que vivem e trabalham com esportes ou atividades equestres devem ficar atentas", alerta. O modo mais comum de contaminação entre os animais é o compartilhamento de cochos e bebedouros. Os principais sintomas apresentados pelos cavalos infectados são a presença de nódulos nas mucosas nasais, na pele, catarro, febre de 42ºC e pneumonia.
 
Fonte: Correio Braziliense

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