segunda-feira, 25 de abril de 2011

Quanto vale uma vida?

Do Blog do Décio Sá

Por Victor Fausto Silva
Em datas especiais, tais como o Natal, o fim de cada ano e a Páscoa, os seres humanos costumam dar uma paradinha para a reflexão sobre a vida e sobre valores essenciais tais como fraternidade, solidariedade, altruísmo, perdão, amizade e tudo o que encerra o cerne do pensamento cristão: O AMOR AO PRÓXIMO.
Por alguma razão, no Natal, nos fins de anos e na Páscoa, as pessoas tocam e se deixam tocar mutuamente, deixando fluir uma gama de sentimentos e ações nobres e gostosas de se ver e sentir. Eu bem que gostaria de prosseguir esse meu breve depoimento nessa mesma linha de tom humanístico, cristão e fraterno. Porém, o que eu vi no último dia 19/04 no Hospital Português, me deixou profundamente tocado em razão de que, só negou o espírito da PÁSCOA antes declamado.
Uma mulher, aparentando ter seus 60/65 anos de idade, chega ao Hospital Português mergulhada num quadro clínico gravíssimo. Por reconhecer uma das pessoas que a acompanhava, eu me aproximo e indago sobre o que está acontecendo e se posso ajudar de algum modo. Era a mãe do meu amigo que, segundo a própria fala deste, já havia passado por todos os socorrões, IPEM  e UPA, sem conseguir um leito de UTI,  visto que fora nela diagnosticado um AVC HEMORRÁGICO.
Dona MARIA DE LOURDES. Para o ESTADO ela foi só mais uma MARIA. Para o município de São Luis, Dona Maria de Lourdes foi, tão somente, mais uma desassistida. Para o Hospital Português, Dona Maria de Lourdes era, apenas, mais uma possibilidade de ganhar DINHEIRO, caso o tivesse. Mas ela não tinha. Para o meu amigo, Dona Maria de Lourdes era muito mais que um nome, um número ou uma cifra. Dona Maria de Lourdes era a sua MÃE. MARIA MÃE. Como MARIA MÃE DE JESUS, que por não encontrar abrigo nos lares e pousadas de Belém, pariu o CRISTO SALVADOR numa estrebaria.

Eu preciso dizer que eu e o meu amigo trabalhamos juntos no Hospital Geral. E que ironia: ele, um funcionário de uma instituição médica, sem poder socorrer ou mesmo conseguir que a sua mãe fosse atendida por qualquer médico em qualquer hospital. Mas, não só o meu amigo estava ali. Um outro filho da Dona Maria de Lourdes, este um policial, também era só aflição. Logo ele, que serve ao Estado e a cidade promovendo a segurança, não dispunha dos meios ora requeridos para garantir a segurança da vida da sua própria mãe. Mais outros 4 irmãos vieram em socorro. Mas nenhum, ou ainda os 6 reunidos, dispunham de um CHEQUE CAUÇÃO no valor de R$ 20 mil para avalizar a condução de Dona Maria de Lourdes para uma UTI.
Talvez ao ler, e se ler, esse testemunho, os proprietários do Hospital Português argumentem que a responsabilidade primária do atendimento a pessoas menos favorecidas economicamente é do poder público. Pode até ser páscoa, mas uma instituição privada de saúde cuida é do corpo e nada tem a ver com as coisas do espírito. Espírito de páscoa é matéria atinente às igrejas, além do que, o foco do PORTUGUÊS, nunca foi a filantropia. Um hospital privado precisa cada vez mais é de DINHEIRO, ainda que, para obtê-lo, tenha que privar-se de ver GENTE em lugar de LUCRO, privando pessoas do direito à própria vida.
E o que dizer do poder público?  É proibida a cobrança de cheque caução nos casos de comprovada urgência e emergência de modo a impedir o pronto atendimento de vítimas que busquem socorro em estabelecimento médico hospitalar de natureza privada.
A Câmara de Vereadores de São Luís já legislou sobre a matéria, mas não tem a competência e muito menos o compromisso de, sequer, fiscalizar o cumprimento das próprias leis que cria. E isso, não por falta de tempo. Tempo os nossos EDIS têm até por demais. Enquanto o PRESIDENTE DA CASA tem tempo de sobra para acompanhar o time de futebol do qual é dono ao Estado de São Paulo -  vale destacar que o embate futebolístico se deu num dia de semana – um outro vereador, como que seguindo o líder, esbanja tempo nos programas de rádio com audiência nacional para falar das suas peripécias libidinosas, exibindo-se como se um garanhão pegador fosse e minorando mais uma vez as mulheres na medida em que as reduz a objeto da sua manipulação sexual, ainda que estas tenham sido a soma mais significativa do seu eleitorado.
Mas o mancebo não esboça qualquer preocupação com o parlamento municipal, com seus pares e, muito menos com o povo de São Luís. Fica o dito pelo não dito e o neófito edil segue sem se preocupar com o decoro exigido pelo cargo que ocupa, talvez, garantido pela certeza de que o corporativismo ou o seu poder econômico, não permitirão que ele seja ao menos advertido. Oxalá o povo os julgue, não se deixando comprar pelas campanhas milionárias de pessoas cujo único atributo real representativo do “NOVO”  é a certidão de nascimento. Quanto a todo o resto, em nada diferem das velhas raposas e apresentam os mesmos SEVEROS defeitos de postura e de caráter.
Os deputados estaduais também já legislaram sobre a matéria. Mas o único fronte de batalha dos Senhores Deputados, por hora, parece ser mesmo o AEROPORTO. O terminal RODOVIÁRIO da capital está a ponto de desabar. Mas como deputados não viajam de ônibus, essa situação vergonhosa, que atinge sobretudo os mais pobres, torna-se uma questão de somenos. E como Dona Maria de Lourdes nasceu e viveu exatamente no grupo dos pobres; pobre Dona Maria de Lourdes! Como pobre, ela morreu.
Ela que tinha o nome da Mãe de Jesus e morava num bairro chamado “MADRE DE DEUS” teve um fim nada divino. Dona Maria de Lourdes não pôde usufruir e nem verá pronto e operando, nenhum dos 70 hospitais alardeados nas campanhas vitoriosas de Roseana Sarney e do Secretário de Saúde e Deputado Estadual Ricardo Murad. A promessa da construção desses hospitais serviu bem para dar a Ricardo Murad a maior votação dentre os seus pares, bem como serviu para eleger a Governadora Roseana Sarney logo no primeiro turno. Mas, infelizmente, isso não serviu em nada a Dona Maria de Lourdes.
O Prefeito João Castelo, que se elegeu ostentando a titulação de “TOCADOR DE OBRAS”, se acha hoje entocado numa prefeitura inerte. O Dr. Gutemberg, duplamente investido de poder – como vereador e como secretário de Saúde do Município – certamente não sabe quem foi a Dona Maria de Lourdes. A atuação desta mulher na sua comunidade à frente do Grupo de Idosos da Madre de Deus, bem que poderia servir de modelo de participação e engajamento social para o Dr. Gutemberg VEREADOR E SECRETÁRIO.
E quanto ao MÉDICO? Será que pelo menos o médico Gutemberg, que não se fez presente na vida da Dona Maria de Lourdes, se somará ao VEREADOR E AO SECRETÁRIO para reclamar das contingências que culminaram com a sua morte?
A vida da Dona Maria de Lourdes, foi pedida. Entretanto, nem tudo assim está. Em meio à aflição e desespero da família, eu também vi uma pessoa que buscava ajudar em todo o tempo. Para mim um desconhecido, foi por intermédio do meu amigo, filho da Dona Maria de Lourdes, que eu conheci o Fábio Câmara. Talvez, mais igual na política no futuro. Porém, naquele momento, ele se fez presente.
Segundo o meu amigo, foi o Fábio Câmara quem tinha o telefone ligado e o atendeu quando solicitada uma ambulância para o transporte da sua mãe. Foi ainda ele quem, pessoalmente, foi em busca de um médico socorrista exigido pelo Hospital Português.
Foi o Fábio quem se comprometeu, ali mesmo no balcão de atendimento e negócios, em dar o tal CHEQUE CAUÇÃO, ante a declaração do médico, por ele providenciado, de que a Dona Maria de Lourdes fatalmente morreria se não fosse, de imediato, submetida à estrutura de uma UTI. Por fim, foi o Fábio Câmara quem pagou a despesa de aproximadamente R$ 600 gerada no Hospital Português em razão da breve estada da Dona Maria de Lourdes naquele local.
Aqui cabem inúmeras discussões. Os temas podem ir de assistencialismo e busca de dividendos políticos até compromisso social e mudança de paradigma político. Mas todas essas discussões são menores diante da eloquente questão que não quer calar: QUANTO VALE UMA VIDA?
Todos os anos somos convidados a assistir o AUTO DA PAIXÃO ali no Anjo da Guarda. Cito esse evento por ser de iniciativa popular, feito incansavelmente por comunitários voluntários, com poucos ou nenhum incentivo público, mas que revela, exatamente por essas razões todas, a grandiosidade do sacrifício do FILHO DE DEUS por nós seres humanos. A vida de um igual a DEUS dada como preço pelas vidas de homens e mulheres. Este me parece um preço grandioso.
Bom seria se cada agente público tivesse esse preço em vista quando no exercício das suas gestões. DOAÇÃO PARA SERVIR AOS OUTROS. Se para os judeus, a Páscoa é uma celebração comemorativa da saída de um Egito de escravidão, para nós a páscoa precisa ser bem mais que ovos de chocolate e presentes. A páscoa precisa dar à vida o devido valor real: AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS E AMAR AO PRÓXIMO COMO A NÓS MESMOS.
 Nota: Reproduzido do Jornal Pequeno.

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